sexta-feira, 12 de janeiro de 2007

Não sei qual dos números me traz até aqui. Talvez o um. Talvez o zero. Talvez um oito deitado. Infinito. Até sempre.

sábado, 23 de dezembro de 2006

Doze

Doze é o jogador da bancada. O primeiro do banco, o fim do ano. Doze não entra nas contas. É número para fechar balanço. Doze é um e dois, faz par, é meio-dia. O sol no lugar quente.

segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

Dois

Dois sentimentos diferentes e iguais em simultâneo. Este dois é feminino e número de mulher. Duas. Uma porventura para sempre, outra para já. Duas que quero, duas que tenho mas que não posso. Duas que vão ter de voltar a ser uma. Talvez a mesma, a de mais tempo. Por estar mais em mim, por ser mais de mim.

Trinta

O meu pai ofereceu-me um creme anti-rugas e uma mala de viagem. Faz sentido. Fazem sentido. Trinta anos foi o tempo suficiente para perceber que os meus pés só estão bem em trânsito. Terrestre e / ou lunar. Trinta anos. Trinta nomes. Trinta formas diferentes de sorrir. Trinta anos e a minha mãe tão bonita…os cabelos cumpridos lisos ao vento, a camisola a baloiçar-lhe no corpo magro, o cheiro a iodo da praia de sempre. Os olhos azuis da minha prima num esforço feliz de quem se vê a gerar vida. E o sorriso tímido do meu pai. A Laidinha a gritar comigo «agora toca com o nariz», quando os dedos não chegavam para acabar as escalas. A minha garganta a tremer de nervos, os olhos cheios de água a beberem vontades numa clave de Sol. Persistência. Gelados enormes a embelezarem férias gigantes. Eucaliptos. Tantos eucaliptos. E massa com arroz. A minha irmã. O melhor de mim. A Branca, a Sandra, a Márcia. A Márcia. E os extraterrestres que nós escrevíamos. Depois a Pipi, o Abel, o Lucas e o Afonso. Outra vez o Afonso. Gargalhadas. Enigmas. Livros. Mãos. Olhos. Corpos. Jogos. Pedaços de nós. Pedaços de mim. Ferreiros. O meu passaporte. O piano encostado à parede. A lareira da casa da minha mãe e a luz fraca do candeeiro antes de adormecer. A minha banheira. A Sofia, a Beatriz, a Maria Inês, o Hugo. Trinta anos. As minhas avós, o meu avô Eduardo. A neve no Alvão. Uma cadeira de baloiço. Um trevo de quatro folhas. Um beijo.

quarta-feira, 29 de novembro de 2006

Dois mil e seis

Dez da manhã. Entro no ginásio e a senhora da recepção sorri-me. «Sabe, só hoje é que dei conta que me enganei a preencher os seus dados!», disse-me com vivacidade. Olhei-a surpreendida. Já frequento o ginásio desde 2004. «Escrevi mal a sua data de nascimento! Ou melhor, o ano em que nasceu...!», continuou com o mesmo sorriso aberto. «Sim?!...e deu-me mais idade ou menos?» perguntei com a curiosidade aguçada de quem chega aos trinta. «Nem imagina! Por mim, você ainda nem nasceu!!! Vai nascer este ano! Nasce em 2006!». Olhei-a como quem vê um segredo ser revelado. Quase lhe gritei «chiu, fale baixo, não vê que isso não se pode dizer assim, em qualquer lado?!», mas não gritei, sorri-lhe de volta e pensei quase em plágio: «admirável mundo este... o dos números».

Cento e Vinte e Sete

Fiz um número contigo. Foi dias depois de ter recebido a minha primeira carta sem texto. Uma permissão para te conduzir. Para me conduzires à liberdade ou até mesmo às noites de amor dentro de ti. Recordo com um sorriso, agora com um sorriso, aquelas em que no Inverno adormecias em frente ao mar. Aquelas em que me obrigavas a ir embora a pé. Voltava sempre na manhã seguinte e só te acordava com um choque eléctrico. Para mim, foste sempre mais do que um número de referência de uma marca. 127, chamaram-te. E ainda te chamam. Conheceste de perto as minhas mulheres, os meus vícios, a minha dor, os meus caminhos. Testemunha da minha pressa: de vida, novidade, ou reencontro. Voltei a ti por instantes. Para me recordar de mim.

segunda-feira, 27 de novembro de 2006

Um




Tinha pensado escrever sobre números. Mais concretamente, sobre o número 100. Por uma questão de lógica de blog. Com cem letras. Sem rodeios. Mas com a chuva a desenhar barcos na minha janela e o aroma quente do chá de tília a fervilhar-me na memória, apenas me apetece escrever sobre ti. Sobre as tuas mãos velhas pousadas no jornal de ontem, os teus olhos embriagados num azul fundo, a tua boca num sorriso tímido à espera de vida. Do lado de fora da minha janela está a chover. Chove muito. Cá dentro baila-se ao som de teclas de computador, num vicio de corpos entre letras. Num desassossego de destinos.

Quanto a números, que me desculpe o 100, mas esta noite só me consigo lembrar do 1 : de ti.

100

Sem? Não. Cem. Com muitas. Letras